domingo, 30 de maio de 2010

SÁTIRA À SUCAM


Sou Sucaneiro e vou contar agora
Como é a vida de um federal,
Pra começar de casa já se sai mal,
Deixamos mulher e filhos desamparados,
Pra comprar comida é só cheque pré-datado.
Então com o choro das crianças me despeço
E no portão o cobrador já me fala em processo
e lá vou eu de novo pedir dinheiro emprestado.

Passo olhando os ônibus na rodoviária
E antes de ir pra faixa pedir carona
Penso na vida de como ela é uma zona.
Um carro pára, é o vigésimo primeiro
E o motorista a contar a velha piada do barbeiro,
E chegando ao "barraco" sem almoço, triste e cansado
Rapidamente pelo "chefe" sou convidado,
Pra trabalhar nas vilas e eu sem dinheiro.

Falo em diária e o inspetor de perfil
Me olha e fala mais que ligeiro:
- O que tu faz com tanto dinheiro...?
Fico quieto, "com esses hôme to robado",
Igualam a dinheiro esse "piso defasado".
Então de noite já no acampamento,
Antes de sair pra tomar "uns ungüentos",
Falam: - Não chegue agitando e cheio de trago...

No outro dia é a mesma folia,
De-lhe piriza, lá estou eu a pegar "fincão".
Falta material, não tem pinça, vai com a mão.
Conseguindo almoço, a borrifação é depois,
E há primeira hora é “cento e um”... cento e dois...
E sempre quando a coisa de novo "encruca",
Ao morador faço a mesma e velha pergunta:
-Tem uma galinha pra dar pra nós comer com arroz...?

Colocamos a culpa nos políticos, no "Sarney",
No chefe de equipe, na sede, até no inspetor.
Mandamos abaixo-assinados ao diretor,
Até "operação-tartaruga" estamos pretendendo,
É diária atrasada que estamos querendo.
Então olhei o boletim de um colega que veio,
"A lá tartaruga" ele fez um boletim cheio,
-É, -diz ele- as casas eram perto e eu fui fazendo...

Sexta-feira é dia de ir embora,
Vou de novo para a "faixa" e agito
E a todos que não param eu berro, eu grito,
Afinal o salário saiu vivo... viva...
E o sábado inteiro corro pagando dívidas,
Aí no domingo o churrasco apressado,
Segunda vou ao banco e peço o saldo,
O caixa olha e diz: - A conta está negativa...

Que vida danada a nossa, amigos,
Fizemos operação, paralisação,
Aumento é falado em termos de gozação,
E ainda tem os sindicatos sem futuro,
A maioria prefere estar em cima do muro,
São viagens, são reuniões lá na Bahia,
"Maravia, da azia, essa é fria, que dia,"
"Nada devemos e pagamos o nada com juros."

É, vim pra ficar um ano e estou cinco,
Mas no ano que vem vai mudar finalmente,
Prefeitos e Governadores vão ajudar a gente,
Tenham fé e pensem que tudo dará certo,
Até a aposentadoria já está bem perto.
Sim, tu tens filhos e mulher pra dar de comer,
Importa o sofrimento e essa tua vida perder...?
Afinal, é certo, nosso futuro é ou não é incerto...?


Nota: - Essa poesia foi escrita na data de 01 de Setembro de 1988
época em que a situação era desesperadora. Muita coisa mudou
de lá pra cá, inclusive algumas palavras. Notem que muitas coisas
estão no mesmo, mas, algumas, por incrível que pareça, pioraram.

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Santa Rosa, Rio Grande do Sul, Brazil
Funcionário Público federal que andou 29 anos por esse interior do Rio Grande do Sul

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