domingo, 7 de agosto de 2011




                  ‘AS CARONAS’

   Nos primeiros anos do nosso trabalho as tais de caronas foram
uma coisa absurda, porque eram tantas as dificuldades. Não pagavam
passagem de ônibus, nossos salários eram uma mereca.
  Aí então, a saída era partir para a carona, para ir e voltar do
trabalho. Às vezes a gente tinha que sair aos domingos de casa, e de
carona a gente ia até onde podia chegar, aí se posava em um hotel ou
pelas rodoviárias geladas. Então segunda-feira bem cedo à gente deveria
estar onde a equipe estava acampada, fosse onde fosse.
  Lembro de tantas histórias nessas estradas:
  Um dia a gente estava em Panambi pegando carona entre uns sete colegas
e ninguém parava para nós, ninguém. De repente o Ari Nambu cruzou a rodo-
via e começou a pedir carona para o lado contrário de Santa Rosa, aí todo
mundo rindo e brincando, perguntamos pro teimoso:
  -O que é isso, Ari, pra onde tu vais?
  -Não consigo carona pra lá, vou pra cá... - respondeu ele.
  Logo depois parou um carro e ele foi mesmo. Chegou umas duas horas
depois de nós em Santa Rosa, mas deu a teimada dele.

   Outra vez estavam o Sucesso (ele é crente da Assembléia de Deus) e
o Roni Lagartixa pegando carona e estava àquela calmaria, não passava
ninguém na estrada.
  O Sucesso, já nervoso andava pra lá e pra cá. Numa dessas quando ele
virou-se para onde estava o Roni, arregalou os olhos.
  Estava o Roni com as calças abaixadas até os pés, pelado e fumando
calmamente um cigarro amigo.
  O Sucesso vendo aquilo enlouqueceu.
  - Meu Deus, -gritou ele- é o satíco. Ergue essas calças, mulambinho,
assim ninguém vai parar pra dar carona pra nós...
  O Roni fazia pra incomodar ele.

  Outra vez eu e o Nelsinho pegamos carona de Santa Rosa a três de Maio,
a gente estava indo para Passo Fundo. Quando o motorista do carro nos
largou no trevo de Três de Maio ele nos cobrou. Na hora pensei ser brin
cadeira dele e saí sorrindo da piada, mas ele chamou o Nelsinho e disse
muito sério:
  -Vocês sabem que o carro tem desgaste, né? Mas qualquer coisa que
vocês puderem me dar está bom.
  O Nelsinho colocou a mão na carteira e deu pra ele alguns trocados
e disse irritado:
  -Nós pedimos carona porque estamos sem dinheiro também...
  O motorista ainda agradeceu:
  -Ta bom, isso já ajuda. -disse contando as moedas.




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Santa Rosa, Rio Grande do Sul, Brazil
Funcionário Público federal que andou 29 anos por esse interior do Rio Grande do Sul

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